sábado, 27 de outubro de 2007

Prémio para Gonçalo M. Tavares



A sempre atenta Joana Lucas chamou-nos à atenção para o facto de Gonçalo M. Tavares, autor que nos tem acompanhado nas nossas aulas, ter recebido o Prémio Portugal Telecom de Literatura com o livro Jerusalém editado em Portugal em 2004.



"Antes de tudo sou leitor. E tento ser um leitor atento. Não consigo conceber um escritor que não leia, leia, leia muito", afirmou o Gonçalo M. Tavares que, anteontem, no Brasil, foi galardoado com o Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa 2007, com o romance "Jerusalém". A obra, escrita quando o autor tinha 33 anos, já havia sido premiada em Portugal quando, em 2004, recebeu o Prémio Literário Ler /Millenium bcp e, em 2005 ,o Prémio José Saramago. in Jornal de Notícias

sábado, 20 de outubro de 2007

A carta de Reclamação



TATE GALLERY


O museu fecharia às cinco horas,
o que mais tinha de verdadeiro.
Não concordou com o colega.
No seu caso, as imagens enviavam-no
para as diferentes etapas da sua vida.
Recuperava, com as cores e as formas,
alguns momentos que julgara ter apagado
da memória. Transitavam de sala
em sala e não sabia explicar-lhe o poder
desses fragmentos de visível. As palavras,
tal como as imagens, eram a penas ocioso
pretexto, pois ele permanecia ainda atrás
de cada artista, dirigindo a execução da obra.
A visita teria mesmo de ser rápida.
Cinco em ponto Londres, uma semana
de Janeiro com um sol de tela, para quê
perder tempo em museus? No exterior
o verde das árvores contrastava
com o verde das árvores.


in Apócrifo de José Ricardo Nunes



Com base no texto poético, tomámos a liberdade de fazer uma carta de reclamação em nome do poeta...


Exºmo Director da Tate Gallery


Eu, JR Nunes, venho por este meio expor o meu desagrado face ao sucedido no passado dia 23 de Janeiro, na Galeria pela qual v/Exª é responsável. Acontece que quando me dirigi à bilheteira, não fui informado de que a exposição encerraria às dezassete horas. Quando o soube já era tarde de mais, pois já tinha feito a compra. Uma vez que já não me encontro em Londres, peço que me devolvam a quantia que dispendi, pois não usufruí da exposição devidamente. Como prova, envio cópia do bilhete.

Atentamente,

JR Nunes

"O novo rosto de Isabelle", revista VISÃO

"O novo rosto de Isabelle
permite-lhe tudo
menos dar um beijo"
Noelle Chateller por Emília Caetano

Em Novembro de 2005 a fran­cesa Isabelle Dinoire tornava-se a primeira pessoa a receber um transplan­te da face, depois de mordida por um cão. Três meses mais tarde o mundo via-a - o rosto ainda inchado, as cicatrizes evidentes, o lábio inferior descaído. Agora, Noelle Chatelet, ex-pro­fessora de Comunicação na Sorbonne, irmã do ex-primeiro-ministro DanielJospin (PS) e autora de obras sobre o corpo, lança um livro sobre essa aventura, Le Baiser d'Isabelle (O beijo de Isabel).

Até que ponto lsabelle Dinoire acei­ta hoje o novo rosto?
Aceita-o perfeitamente. Viveu seis meses sem rosto, sem poder falar ou comer, com um buraco em vez de boca. Hoje há uma parte da cara que lhe é estranha, mas que integrou no seu seu imaginário,no seu psiquismo. Tem um reconhecimento infinito pela dadora e pela família . Sente uma imensa ternura por essa parte do rosto que não lhe pertence. É muito lúcida sobre essa ideia de partilha Sabe que é dupla, mas vive isso serenamente.

E como está ela?
Perfeitamente. Houve pequenas rejeições do transplante, mas sempre controladas.
Toma uma medicação muito forte, o que a fatiga, mas o rosto está magnífico, apesar de as cicatrizes não terem desaparecido completamente.

A dadora tinha-se suicidado. Que relação de­senvolveu lsabelle com ela, uma vez que tam­bém tomara barbitúricos?
A certa altura ela nem queria que lhe to­cassem na cara, para não estragar o trans­plante, e está sempre a ver se tem verme­lhidões. Faz parte do agradecimento. Acha que tem de viver pelas duas. Deve-lhe isso, a assim como à equipa médica, que se tornou a sua segunda família (e eu entrevistei os 45 envolvidos, além de lsabelle, durante quatro meses). Ela vê a dadora um pouco como sua irmã. Desenvolveu laços muito fortes com ela, porque acha que viveram coisas muito semelhantes.

Que laços tem com a família da dadora?
Nenhuns. A lei francesa proíbe os transplantados de entrarem em contacto com a família dos dadores, e eles também não a procuraram.

Ela diz que pode falar, sorrir, comer. Só não consegue dar um beijo…
Osa médicos tinham avisado que não sabiam se ela conseguiria articular de novo o músculo orbicular, o do contorno da boca, que permite aos recém nascidos mamar. Ainda não readquiriu totalmente, mas faz muitos exercícios. Daí que a equipa médica espere esse beijo com muita emoção. Só então se apropriará totalmente do rosto do outro. Será a apoteose do transplante. É uma bela história porque, para ser bem sucedida, terá de acabar como um conto de fadas.

Você já conheceu outros tranbplantados, como um que recebeu as mãos. Que semelhanças há com este caso?

Isabelle recusa a comparação. Diz que quem não gosta das mãos pode escondê-las no bolso, mas a cara não. Achei, no entanto, algumas semelhanças entre todos, como o o reconhecimento pelo dador e pela família. Mas como os órgãos visíveis desenvolve-se uma espécie de fantasma, de medos, de estranheza e há o olhar dos outros. É curioso que os doentes vivem melhor do que os outros, que pensam sempre «bem, as mãos não são dele».

Como a mudou a operação?
Para ela, o transplante foi uma espécie de viagem iniciática. É outra Isabelle, não por ter outro rosto, mas por sentir que é útil. Apesar dos exames dolorosos que faz, dá-lhe certo orgulho saber que fez avançar a ciência e pode ajudar outros. Voltou a ter grande alegria de viver.

Já mudou a foto no B.I.?

Não. Isso assusta-a um pouco. Se mudar a foto, terá definitivamente partido. Gostava do rosto anterior, apesar de também gostar deste. Tem muito poucas fotos antigas, mas não sente necessidade de as ver. Está muito serena em relação a isso.

Ela foi atacada pela cadela. Porque comprou outro cão?
Ficou tristíssima quando soube que tinham abatido a cadela. Sabe que ela não lhe queria fazer mal. Mordeu-a a tentar salvá-la, pois estava inanimada. Depois, quando voltou, sentiu necessidade de uma presença animal. Chamou ao cão Anjo e diz que foi o único ser que a tomou por uma pessoa normal quando estava desfigurada.

in revista Visão, nº 763, 18 de Outubro de 2007

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A falta de objectividade jornalística

Certo dia, um Lisboeta decide ir ao Porto visitar a sua família. Como era a primeira vez que vinha a esta maravilhosa cidade, decidiu dar uma volta para a conhecer melhor. A certa altura, no coração da cidade, vê um menino a ser atacado por um Dobberman. Seguindo o seu instinto, corre para junto do incidente e atira-se para cima do Cão. Depois de luta intensa e desesperada o corajoso homem consegue agarrar o pescoço do cão e sufoca-o até à morte.
Exausto, o valente homem vê aproximar-se outro homem, que corria na sua direcção. Chegado a sua beira ele diz:
- O Senhor é espantoso, corajoso, incrível. Eu sou jornalista e amanhã na primeira página do meu jornal estará a seguinte Manchete:
"CORAJOSO PORTUENSE SALVA CRIANÇA DE MORTE CERTA."
Ao que o lisboeta respondeu:
- Muito Obrigado, mas há um equívoco, é que eu não sou do Porto, mas sim de Lisboa, vim visitar uns familiares e blá, blá, blá...
No dia seguinte, a primeira página do jornal era:
"MOURO MATA SEM PIEDADE CÃO DE FAMÍLIA."



Breve comentário:


Esta breve "estória" ilustra na perfeição e caricaturalmente a falta de profissionalismo de um jornalista que, ao invés de se limitar a narrar os factos, constrói ardilosamente um título, que apesar de real, condiciona, deliberadamente, a opinião dos leitores. Ao dar conta que o homem que salvou a criança não era portuense, transformou o cão em vítima. Apesar de este texto ser exagerado, é um facto que os jornalistas às vezes tendem para o sensacionalismo e para a parcialidade.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

A minha força de viver!, Susana Lima Pereira

«Ao redigir este livro, a principal finalidade que pensei para ele foi que pudesse assistir, de algum modo, a quem se encontre numa situação semelhante, numa aparente estrada sem saída. Encontrando aqui relatos simples e, por vezes, pueris, mas relatos verdadeiros e sinceros que lhe dessem linhas orientadoras e, sobretudo, esperança para lutar contra a adversidade, seja contra a Leucemia, seja contra quaisquer outras doenças incapacitantes. »
Susana Lima Pereira
Sabias que a Susana é aluna na nossa escola (12B)?
A Bruna Barbosa levou hoje o livro da Susana. O livro vai circular por alguns leitores curiosos e depois vamos convidar a Susana a vir conversar connosco...
Será que ela aceita o desafio?

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

"O senhor Jacobini", por Sara


O senhor Jacobini tinha uma necessidade urgente de saber a temperatura de tudo. Quando ia ao café media, com um termómetro, a temperatura do mesmo. O gelados tinham sempre de ter a temperatura certa: nem is, nem menos.

Na rua, perguntava às pessoas quanto graus estavam e niguém lhe respondia.

Em casa, estava sempre a confirmar a temperatura.

Para ele era mais importante medir a temperatura, do que medir o tempo.


Sara

O senhor Gustavo, por Joana, Rute, Xana e Bruna Barbosa


O senhor Gustavo adorava música, mas tinha medo de morrer intoxicado com música pimba, por isso, sempre que estava sujeito esse tipo de música, suspendia a respiração até ficar roxo.

O senhor Gustavo gostava de encontar um música que, quando a inspirasse, o inspirasse. Nesse sentido, tentava frequentar os espaços onde pudesse ouvir músicas mais inovadoras.

As pessoas que o rodeavam estranhavam que ele estivesse constantenente a farejar. Qando encontrava uma música realmente inspiradora, fartava-se de espirrar: era alérgico. Nas farmácias não havia remédio para o caso dele, a soluçao era não respirar aquela música e tentar só ouvi-la.


Joana, Rute, Xana e Bruna Barbosa

"A música" de Gonçalo M. Tavares

(Sea Organ, Croácia. Se quiseres ouvir clica aqui)




A MÚSICA


A questão que preocupava naquele momento o senhor Juarroz era esta: se a música é, no fundo, ar a um determinado ritm, e se a expiração humana é constítuida pela expiração - que expulsa ar - e pela inspiração que engole ar - será que ele - o senhor Juarroz, estaria naqueles instantes a inspirar aquela música terrível que uma banda ingénua tocava?

O senhor Juarroz não era químico, não conhecia com profundidade a composição do venenoso monóxido de carbono, no entanto, só por curiosidade, consultou o programa do espectáculo para confirmar o nome da música escutada com grande sofrimento.

Porém, o nome de monóxido de carbono não constava. Além de tocarem mal, pensou o senhor Juarroz, enganam-se no nome das substâncias.

Ao veneno chamam sinfonia.



in Tavares, Gonçalo M., O Senhor Juarroz, Ed. Caminho, 2004


O senhor André, por Bruna Martins e Liliana Patrícia


O senhor André só lia livros que, em vez de se abrirem, fechavam. Era por este motivo que não lia. Para ele isto constituía um grave problema, porque assim só podia ler placards, letreiros e legendas.

Um dia, o senhor André teve uma ideia; resolveu começar a escrever os seus próprios livros. Só que quando os acabava de escrever, já não os podia ler mais.


Bruna Martins e Liliana Patrícia

O senhor João, por Andreia Patrícia


O senhor João, quando ia às compras, ficava tão maravilhado com os cheiros fantásticos dos diversos produtos expostos, que tinha necessidade de meter o nariz em tudo. A sua perdição eram, contudo, as calças.

Os empregados das lojas já o conheciam e, mal chegava um novo modelo, avisavm-no logo. O senhor João ficava logo bem disposto e procurava sentir o cheiro dos novos modelos.

No fim, o senhor João saía satisfeito: fazia compras olfactivas.

O senhor António, por Carla e Ana


O senhor António, quando ia às compras, gostava sempre de provar alguma coisa. Tinha a necessidade de provar tudo, para ver se era bom. Provava tudo: chocolates, batatas, salsichas, livros, perfumes e até sapatos.

O senhor António é um maníaco das compras gustativas, pois prova tudo, mas não compra nada.


Carla Machado e Ana

"O cinema" de Gonçalo M. Tavares



O cinema


O senhor Juarroz, quando ia às compras, ficava tão maravilhado com as formas e cores dos dirsos produtos colocados nas prateleiras que chegava ao fim com o cesto vazio.
Na verdade o senhor Juarroz ia às compras, não para comprar, mas para ver.
Não ia fazer compras materiais, mas sim compras visuaiscomo já o conheciam, os empregados do supermercado, vendo-o a entrar, por vezes diziam:
- Senhor Juarroz, olhe que chegaram uns produtos novos. Estão na última prateleira daquele corredor.
E o senhor Juarroz, agradecendo a indicação, ansioso, lá acelerava o passo na direcçãondicada.
in Tavares, Gonçalo M., O Senhor Juarroz, Ed. Caminho, 2004

"A Chávena e a mão" de Gonçalo M. Tavares


A partir de algumas microrrativas da série O bairro, de Gonçalo M. Tavares, da qual fazem parte personagens desconcertantes como O Senhor Valéry, O Senhor Henri, O Senhor Juarroz, O Senhor Calvino, O Senhor Kraus e O Senhor Walser construímos os nossos próprios "senhores".

A Chávena e a mão


O senhor Juarroz hesitava em pegar na sua chávena de café porque não conseguia deixar de pensar que não são as mãos que pegam nos objectos, mas sim os objectos que pegam nas mãos. E tal repugnava-o, pois não aceitava que uma simples chávena lhe agarrasse a mão (como o noivo impetuoso agarra nos dedos tímidos da noiva).
Por isso o senhor Juarroz em vez de agarrar na chávena ficava longos minutos a olhar para ela, de modo agressivo.
Mais tarde queixava-se do café frio.


in Tavares, Gonçalo M., O Senhor Juarroz, Ed. Caminho, 2004