quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Oficina de Escrita

Diálogos Cruzados: Joana e Bruna

Já viste o que fizeste?
Basta, não percebo porque é que toda a gente me olha de lado.
O que fizeste foi bastante grave.
Recorda-me porque não me estou a lembrar de nada de especial.
Ainda por cima não sabes o que fizeste?
Ui, não sei o que se passa.
Na segunda de manhã, disseram-me que roubaste um anel de ouro ao ourives.
Não roubei nada na segunda nem entrei na ourivesaria.
Acho que não serias capaz.
Até amanhã, não estou para me aborrecer, eu já disse que estou inocente.

Oficina de Escrita



Diálogos cruzados CARLA / ANDREIA

C
omo é que é possível ?! Roubaste-me o anel!
Ah?! como podes pensar isso de mim,seria incapaz de fazer essa barbaridade.
Achas que o meu pai ia inventar isto? Ele viu tudo.
Nada disso, tu conheces-me seria incapaz de o fazer.
Realmente, eu achava que tu não eras capaz.
Depois de duvidares de mim, depois de tudo o que fiz por ti!
Lamentavelmente, a nossa amizade acaba aqui.
Respondia-te à letra, mas não mereces.
A tua atitude só mostra que o meu pai tem razão
É
s mesmo má,
Infelizmente, perdi tempo contigo
A vida continua...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A Princesa que queria ser Rei, de Sara Monteiro


"[...] Não, não era bem a filha de que os pais estavam à espera, longe disso. Desde logo, quando nasceu, já era diferente de todas as outras crianças, uma pequena bola envolta em tanto pêlo que até os físicos ficaram espantados.- Rainha - disseram eles quando o silêncio se tornou demais embaraçoso - a princesa é um bocadinho peluda. Mas de resto - acrescentaram- é perfeita como uma flor. [...]"

Jamais se vira uma princesa assim: tão grande, tão bela e tão peluda que causava espanto a quem para ela olhasse. Desde criança que o seu maior desejo era herdar o trono e governar.
Mas o rei e as leis diziam que apenas um homem o podia ocupar. Esta é a história da luta da princesa para provar que é tão boa como qualquer homem. E mesmo melhor.
Esta é uma história de príncipes, princesas, reis e rainhas diferente do habitual.


Um livro escrito por Sara Monteiro e ilustrado por Pedro Serapicos

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Mundo em que Vivi, de Ilse Losa, por Bruna Martins.

O Mundo em que vivi é um livro de Ilse Losa de 1943 que fala de uma jovem judia – Rose - que passou parte da sua infância com os avós. Esta história conduz-nos à primeira infância de Rose, nos finais da primeira guerra mundial. Faz-nos sentir o desgosto pela humilhação que os judeus sentiam ao serem acusados de todas as desgraças ocorridas nessa altura. Com o nazismo, muitos judeus acabam nos campos de concentração. Rose relata-nos a sua vivência nesses campos. Rose conta-nos os rituais da religião judaica, como por exemplo "o Passah" , a Páscoa dos judeus, a qual era passada em casa dos avós como manda a tradição. Notamos também ao ler, a difícil passagem pela adolescência até ser adulto.

Li com bastante interesse este livro e recomendo-o. A Joana será a próxima leitura de O mundo em que vivi.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Leonardo da Vinci


A exposição “Leonardo Da Vinci – O Génio” está patente no Pavilhão Rosa Mota e conta com dezenas de modelos, em tamanho real, construídos a partir dos desenhos do “génio”, dos quais são exemplos o Submarino, o protótipo do Pára-Quedas ou o Quarto de Espelhos.

A exposição conta, ainda, com reproduções das dez mais famosas pinturas do mestre, nas dimensões originais, assim como cópias de manuscritos, desenhos e anotações, o que permite, por exemplo, admirar o surgimento da perspectiva e detalhes dos planos de fundo em obras como a “Mona Lisa” ou “A Virgem dos Rochedos”.

A exposição em números

Máquinas – 80
À escala Real – 37
Interactivas – 23
Área da exposição – 2600 metros quadrados
Decoração interior e exterior – 8500 metros quadrados

Para saber mais: www.leonardodavinciogenio.com

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

HADES, de Luísa Costa Gomes





— São os anos do Rodrigo e a gente faz o que ele quiser. Foi o que eu disse e é o que se faz. Agora calas-te e andas para a frente. E cara alegre e não arrastas os pés.
— Porque é que hadem estar sempre a discutir, mesmo no dia dos meus anos?
— Olha-me aquele — disse o pai — parece o Guilherme nosso vizinho. Só lhe falta o boné.
Todos se riram a olhar para o peixe vermelho, até o Rolando, embora contrariado.
— Fechastes o carro? - perguntou a mãe.
— Tudo sobre controle - disse o pai.
— Não te debruces, Rodrigo Tiago, parece que fazes de propósito!
Os peixes rebolavam pela água esverdeada. O Rodrigo queria perguntar ao pai como é que eles conseguiam ver, só com um olho de cada lado da cabeça. Mas teve medo que ele empreendesse uma explicação demorada e agora queria mais que tudo despachar-se. E teve sorte, porque não havia muita gente a querer entrar no Aquário Vasco da Gama.
— Tens dinheiro destrocado? - perguntou a mãe. E o pai tirou da carteira uma nota de mil e deu-a ao guarda. O Rolando ficou de costas, distraído a olhar para a montra das caixas envernizadas e de cavalos marinhos para sempre empertigados. Entraram pelas anémonas logo a seguir.
— Isto é que era uma coisa boa lá para casa - disse o pai. - Esta luz que só acende enquanto a gente carrega no botão. Era um grande poupar de energia.-Depois leu:- Anemonia Sulcata, nome vulgar, anémona.
— A cabeleira delas até parece a do Rolando - disse a mãe a querer brincar. E logo, para o Rodrigo:
— Não lambuzes o vidro, pá, que é poribido. Ainda vem aí o homem e nos põe a todos fora.
— Ih, mãe, olha-me esta lula! — gritou o Rodrigo. — Olha-me esta lula!
Ficaram todos pasmados com a lula gigante.
— Isto dava uma caldeirada para uma casa de família — disse o pai. E leu depois, no cartaz iluminado: — Oito metros e vinte e duzentos e sete quilos! Os olhos têm vinte e cinco centímetros de diâmetro...
— A oitocentos paus o quilo — calculou a mãe — vê lá tu quanto é que aí não está de lulas.
— Assim congelada é capaz de ser mais barato - disse o pai.
Foram pelo corredor conscienciosos, acendendo luzes, espreitando anémonas e cavalos marinhos, juntando as cabecinhas sobre as janelinhas redondas dos aquários. O Rolando acompanhava à distância, como se não lhes pertencesse, de mãos nos bolsos, deitando olhares descomprometidos aos espécimes quando não podia mesmo deixar de ser, absorto num grave problema íntimo que nenhuma visita, nenhuma festa, nenhuma palavra podiam resolver. Depois começavam os peixes.
— Olha-me aquele todo às pintinhas. Ó pai, podemos ter um?
— Isto não são uns peixes quaisquers, não se arranjam assim do pé para a mão — explicou o pai. — Se calhar há para aí um ou dois no mundo inteiro.
— São muito feios os peixes - disse a mãe. — Têm um ar muito estúpido.
— Há quem diga que vimos deles, sabias? - disse o pai ao Rodrigo.
— Só se fores tu, eu cá não venho com certeza. Uma vez a minha madrinha até me quis dar um peixinho vermelho, mas aquilo fazia-me espécie, a criatura às voltas no frasco, deitei-o pela pia abaixo.
— Deitastes fora o peixe? - perguntou o pai, incrédulo.
— Era pequena - disse a mãe. — Coisas da minha madrinha.
Assim dizendo chegaram a uma grande sala. No tanque havia tartarugas. O Rodrigo debruçou-se para ver.
— Ó pai, que grandes cágados! O Pedro tem um, mas é pequeno. E aqueles ali, que é que eles estão a fazer?
O pai e a mãe olharam para as duas tartarugas que o menino apontara.
— Não são coisas para a tua idade - disse a mãe. - Sai lá daí.
O Rolando aproximou-se, porque de repente sentira uma grande motivação para ver tartarugas. Encostou-se ao muro que rodeava o tanque, repousou a cara na mão direita e observou desapaixonadamente o namoro daqueles bichos.
— Mas eu já sou crescido — ripostou o Rodrigo. — Já vi na Televisão.
Viraram à direita e puseram-se a subir para as focas. Abrandavam o passo porque o Rolando não descolava do tanque educativo e também porque ainda era cedo para o almoço e, pelo andar da carruagem, calculavam que não houvesse ali muito mais para ver.
Na sala das otárias, a mãe deixou-se embevecer pela decoração marinha de conchas e barrocos búzios.
— Isto está um luxo, já viste? Está lindo. E, para o Rolando, que chegava:- Hades ficar sempre para trás e andares de trombas. Nem nos anos do teu irmão nos fazes o favor de estares contente, poças!
— Agora por poças — disse o pai com o seu ar das festas, pegando no Rodrigo ao colo para lhe mostrar as focas. — Lembro-me de andar um dia na pesca com o meu tio Olindo...
— Lá vem a história do tio Olindo! — suspirou a mãe a rebolar os olhos.
— ...e não pescávamos nada, estivemos para ali a manhã toda e nada, até que ele resolveu ir mais para baixo no rio, onde a água ia com mais força...
— Deixa lá os promenores e despacha-te - disse a mãe, admirando ainda as convolutas da decoração da sala.
— ...e eu a ver, era pequeno, tinha para aí a tua idade. Bom, vai o tio Olindo por ali abaixo, chega onde a corrente era mais forte e posta-se de perna aberta e lança o isco e fica à espera. A certa altura só o vejo começar assim como que a dançar, levantava uma perna, depois outra e eu pensei que ele estava todo contente porque tinha apanhado algum, mas não. Depois vejo-o cair estatelado dentro de água, ao comprido.
— Ih, que giro! - disse o Rodrigo.
— Tinha-lhe entrado uma rã para a galocha e estava-lhe a fazer uma comichão danada. Então caiu na água... Bom, mas o melhor foi que o tio Olindo se despiu todo e ficou só em ceroulas e pôs a roupa a secar numa pedra e vieram uns miúdos e roubaram-lhe tudo.
O Rolando emprestava àquela história uma orelha meio ausente. Conhecia de cor a história do tio Olindo, lembrava-se de ouvir o pai contá-la em casamentos e baptizados da família, com um copito a mais, e quando o Rodrigo, depois de ter estado muito doente em bebé, saíra finalmente do Hospital. No carro, na viagem para casa, com o Rodrigo no colo, o pai contara a história do tio Olindo e a mãe chorara a rir.
Agora só o Rodrigo é que se ria a ouvir o pai.
— Bom, mas não acaba aqui — disse o pai. — Do que eu mais gosto de me lembrar é do meu tio Olindo, muito gordo, todo nu só com as ceroulas, descalço a passear-se todo contente pela aldeia, de cana de pesca ao ombro e a rir-se para as mulheres que chegavam à porta e se benziam como se tivessem visto o diabo.
— Era muito bom homem, o tio Olindo — concedeu a mãe. — Já lá está, coitado.
— Ó pai, como é que se dá de comer às enguias eléctricas? — perguntou o Rodrigo. Mas o pai ainda estava com a memória noutro lado, enquanto lia no cartaz:
— Descargas de duzentos a trezentos volts, é o mesmo que pôr a mão na tomada.
— Isto está visto — disse a mãe, e começou a descer para o tanque das tartarugas, que controlou. — Estou farto de le dizer para não pôr tanta porcaria nos bolsos, que me deforma as Levis — queixou-se ela, a ninguém em especial — depois é, ó mãe quero uns Nike, ó mãe quero umas Lois, e rebenta com tudo... Levanta os pés, Rolando Bruno!
Portanto, a mãe estava a ficar com fome. Ainda bem que tinha chegado a uma sala cheia de peixes comestíveis.
— Ele é bacalhau, ele é garoupa, cherne, badejo! Anchovas, pargo, polvo! Só faltam as batatas e os grelos! — disse o pai. Riram-se.
— Não se percebe nada! — disse a mãe. — Mas que vigarice, desde quando é que bacalhau é peixe de aquário? — Se tivéssemos azeite, almoçava-se já aqui!
— Ih! — gritou o Rodrigo — olha-me só a tromba daquele!
Mas os pais tinham parado diante de um cardume de peixinhos vermelhos e a mãe encostara a ponta do dedo indicador ao vidro. Ficara sonhadora, depois o pai afastara-se e premira o botão da luz noutro aquário.
— Apogon Imberbis — leu em voz alta, para o resto dos visitantes — "a fêmea expele os ovos (envoltos numa substância gelatinosa que os mantém unidos num aglomerado), que vão ser incubados na boca do macho; este jejua até ao nascimento das larvas, expelindo-as então"...
— Que porcaria! — disse a mãe. — Lembram-se de cada uma!
Poderia-se lá pensar.
Nessa noite, ao adormecer, no fim do dia em que fez cinco anos, o Rodrigo lembrou-se dos peixes, perguntou-se como podiam respirar debaixo de água. Mas quando a mãe lhe perguntou, dando-lhe um beijo de boa-noite, o que é que ele tinha gostado mais de ver, respondeu:
— Do que eu gostei mais foi do bolo de chocolate do restaurante. Aqueles ossos não comi, mas o bolo era bem bom. A mãe também estava já farta de peixes. O pai demorava-se a ler as legendas, o Rolando não conseguia disfarçar a impaciência, batia com as biqueiras dos ténis no chão, ora uma, ora outra e assobiava entre dentes.
— Não sei porquéque hades estar sempre a fazer isso — disse a mãe ao Rolando. — Estragas os sapatos todos.
— Não é hades, é hás-de — disse, por fim, o Rolando.
Os outros três estacaram, ficaram parados a olhá-lo. O Rolando mudou o peso do corpo para a outra perna, cruzou os braços sobre o peito e repetiu, numa ameaça:
— Não é hades, é hás-de.